Deixe de ver você. Deixei de escrever.

Na última aurora deparei-me olhando aquele bloco velho de folhas – quase amarelas- em cima da mesa, perto das tantas canetas que já criaram tantas histórias. Senti uma lacuna sendo exposta, deixando a vista, à revelia de mim... Perguntei-me por que já não me sentava à mesa e deixara como outrem faria ao presenciar e participar de mais uma aurora. À beira da cama ponho-me a pensar.
De repende, subitamente, seu nome veio em meus lábios. Você. Você que já não faz parte de mim, mas ainda não ousou me deixar. Você que sempre percorreu pelas linhas dos meus versos, protagonista das histórias criadas na rede codificada da minha imaginação.
Entendo... Que loucura, posso entender. Você se foi levando minhas palavras. Hoje elas percorrem vagamente por um mundo que desconheço. Vagam. Livres. Soltas. Longe das folhas amarelas do meu velho bloco de escritos – hoje tão vazio.
Você era a punção, embora venenosa, dava vida as palavras dentro de mim. Escrever me traz você.
 Academia de poeta é poema, é verso rimado que outrora também é livre de métrica. Ando fora de forma. Sedentária de palavras. Fadiga de estrofes. Mas se me ponho à forma, encontro seu rosto nas folhas, seus lábios na ponta da caneta.
Mas, diante de tantos ‘mas’, a ausência de jogar no mundo, escrever as palavras que circulam por todo meu sistema de vida tem causado um vulcão, chegando ao seu ápice: a erupção.
Levanto da beira da cama e questiono as tantas dúvidas que o velho bloco trouxe diante de mim... Um despejo de palavras surge, você, você veio a tona novamente, seu nome no papel escrevi... O adjetivo transformou-se em verbo, você, ali, nos meus versos virou a volta por cima. Superei... até a próxima curva.